domingo, 21 de dezembro de 2008

Sobre o Pedro Fanático e a sua janela na rodovia

Mais um domingo de Pedro. Domingo de barriga. Domingo pingando d'um conta gotas gigante. Pingado.
Hoje parou e eu não quis continuar.
Escorrendo pelos buracos quentes dos meus dedos. Buracos quentes do mundo. Isso que acontece de um ardume bem de baixo da pele do rosto rosa. De baixo do nariz que também pinga pinga e foge.
A cidade e as suas texturas deliciosas quase parando. Texturas doloridas. A cidade e seus fantasmas do domingo dormido.
Domingo de Pedro. O Pedro vermelho na janela vermelha limpando a cadeira encardida, quase imóvel. Eu podia jurar que ele morreu. Ele some e volta e meu coração bate aqui. De alma vermelha borrada. Pedro dormido da janela da minha alma imunda.
Pedro sumiu.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Viajantes na tormenta

A lua está quase cheia e o balanço de vômito do ônibus é uma injeção de conforto no meu braço que a gente esburacou. Porque se ele parar, eu também páro.
Alguma coisa tem que se mexer aqui - e eu mal consigo respirar. Tem só estes ratos(os nossos ratos) correndo e rasgando tudo furiosos aqui dentro.
E eu aqui divagando sobre ficar acordada e a morte, o amor e o amor, o suor e as estradas pesadas que me levam à ti.
É como se eu estivesse sentada no canto oposto de um outro salão enorme vazio no lado sem sol da cidade, e a ponte quebrou e eu não posso chegar até aí. Não posso, eu não posso! Não há nenhuma ponte rápida aqui. Não é tão fácil quanto atravessar a porta do quarto e roubar o ar que vem direto do teu nariz when you sleep nos tons de azul que a madrugada te pinta tão bonito. Não é, e isto me sangra.
Meu peito já foi todo escorrido pelos gritos e agora jaz aqui no chão do meu lado, ardido.
Ardendo.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Cospe-me

Eu corro corro e a parede vai correndo junto. Está sempre dois passos à minha frente, a filha de uma puta.
Talvez esta seja mesmo a lição da dinâmica: nunca conseguir encostar o limite. Mas, porra, eu quero encostar nos tijolinhos cor de laranja(podre)! Encostar não, arrebentar a parede e chegar do outro lado, assim - cuspida, sem precisar de convite mesmo. Nem recepção.
Igual nas grandes corridas dos desenhos animados já cheios de poeira: arrebentando a fita de marcação. F u r i o s a m e n t e. Igual à Vênus sem peles que rodopia rodopia até ficar tonta e cair e atravessar o chão e chegar, finalmente, na minha cama. Sangue. Tão nua. Quando se está sem peles, a gente consegue machucar com um sopro só, sabia?
E também, merda, quem precisa de uma lição de moral como desfeche de um filme?

Hoje meu café ficou choco - me vejo no espelho, do outro lado do copo. Só pouquinha coisa turva e borrada, mas talvez nem seja culpa do café.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Sobre canetas pesadas que não escrevem

Faz umas duas semanas que apareceu aqui em casa uma caneta que tem junto um medidor de temperatura e ela fica suspensa numa estrutura através de um imã. E ah, tem um relógio acoplado também.
Hoje eu precisei de uma caneta e ela estava mais perto.
Foi então que eu descobri que a única coisa que esta caneta não faz é: escrever!!!
É, a tinta fica falhando, terrível.

sábado, 8 de novembro de 2008

Vênus sem peles

Minha percepção de tempo parece...perturbada.
A folha balança devagar e o céu continua claro.
Será ainda o mesmo dia de tantos dias atrás?
Sinto que falta algo aqui hoje. E talvez seja eu mesma.
Sangue, amor. Sangue, meu amor. Meu. Sangue meu.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Ralo

Este é o lugar mais quente dessa cidade. Eu tenho certeza disso.
Quando eu chego aqui - exatamente aqui - no topo desta ladeira, vê? Então, quando eu chego aqui, eu começo a derreter e me desmantelo inteira.
Acho que é o centro da terra. Ou o final sem saída.

domingo, 2 de novembro de 2008

Refrão lento

Parecia que tinham colocado (ou eu tinha colocado?) cem roupas pesadas em mim - cem roupas do algodão mais grosso do mundo - e eu não consiga me mexer direito, nem respirar direito. Mesmo querendo me mexer tanto e respirar tanto.
E tudo parecia um pouco aguado e um pouco como uma aquarela que pegou chuva e depois caiu no chão e toda a tinta se misturou e se perdeu. Molhada.
Tá molhado e quente aqui, e bastante assombrado também. E é tão bom. Mas logo vem o mofo - eu sei, eu sei.
Parece que nunca vai parar de chover. E hoje eu desejo que nunca pare mesmo.

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Sobre o papai-noel aidético e sem barba do ônibus

Hoje eu senti vontade de vomitar um monte com aquelas luzinhas de natal já acesas e aquele cheiro forte de merda vindo do esgoto mal coberto e aquele balançar brusco e constante.
E toda aquela gente magra e doente subindo no ônibus. Tão melhores do que eu.
Aqui tão limpinha, tão ilesa. Tão virgem. Tão sentada.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Music is your special friend.

É bom poder descobrir exatamente qual música eu sou hoje!
E poder ficar ouvindo e ouvindo e engolindo e ouvindo ela.

"Hit me!"

Hoje parece que tem um nó no meu estômago!
Não sei se foi a cafeína, não sei se foi o David Lynch, não sei se foi toda a chuva que tomei no começo da tarde...
Mas o engraçado é que eu usava veludo azul!
Eu devia estar no auge dos meus quatro anos e ficava só esperando o dia feliz em que a mãe colocasse denovo o vestido de veludo azul em mim.
Veludo azul...
Hoje eu pintaria um quadro de uma pessoa sentada no meio de um banco grande no meio de uma praça grande - vazia - segurando um guarda-chuva quebrado e torto em uma das mãos e na outra segurando o cigarro secreto que ela fumava escondido. E ela ia parecer tão atormentada e dona de um segredo tão delicioso e tão desimportante pra todo o resto.
Mas ao invés do jeans preto eu ia colocar veludo azul nela.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Her light is the night

Pra cada lado do meu quintal que eu olho hoje parece um quadro que eu queria ter pintado. Têm as cores exatas que eu teria usado, sabe?
O nublado é tão tão claro, faz a gente ficar com os olhos semi-fechados...
Imaculado.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Sobre um prisma e a noite

O prisma parece um belo de um palhaço pendurado ali na minha janela quando é noite.
Fica ali, balançando de leve, como quem tem medo! Precisa tanto do dia pra funcionar, pobrezinho.
Eu queria tanto que não existe a hora em que a gente tem que fechar as janelas "pra não entrar mosquito". Eu sempre sempre resisti até que tudo fique um breu só e ou eu acendo a luz logo ou dou com o nariz na parede. Sempre, e que venham os mosquitos!
Por isso eu gosto do dia, que insiste em ser dia mesmo quando todo mundo já acendeu a luz feia. E por isso eu não gosto das pessoas, que correm pra acender a luz amarela mesmo quando ainda tem dia pra clarear. Dai fica aquela coisa: a cidade cheia dos pontinho amarelo de merda e por trás o céu ainda clarinho, mas quase-querendo-ficar-preto. Não combina! Não combina, os dois, assim, juntos. A luz amarela parece tão agridoce e me faz vomitar tudo tudo em tudo!
Ao menos tá fresco aqui agora.
Se é pra ser noite, que seja mesmo noite, escuro.
A noite vem e me abraça gelada
Filha de uma puta. Ou duas.
Me come
Sem açucar.
Quadrada e torta, tão bonita!
Enfia dois pedaços de algodão no meu nariz e vou caindo caindo caí.
Agora a chuva. E depois?

domingo, 19 de outubro de 2008

A volta

"Tá fazendo frio nesse lugar
onde eu já não caibo
onde eu já não caibo em mim."

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Eu amo os amigos que reuní sobre esta jangada fina.

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

O mundo parece vermelho

Folha queimada.
As estradas-pequenas tortas e cheias de vento e asfalto quente.
Eu posso ver a cidade morrendo sozinha lá em baixo e o cheiro de noite com whisky chegando.
E a rotina de plástico é doce e ácida e o ônibus começou a andar então eu páro.
As vezes parece que vem e dança em volta do meu pescoço me seduz, me sufoca, me ganha. Me ganha! Essa luz artificial tão feia tão amarela tão pobre me ganha! Parece um velho lar, conhecido. Gasto. O caminho já aberto entre o mato. Mato amarelo. Parece pobre e não tem janelas. Nem portas. Uma caixinha amarela tão familiar! Oh, deus, que vontade de deitar lá e sentir a testa quente e a perna grudando no chão e pingando pingando o suor pingando compondo uma canção.

Sobre o amor e um bumbo

O espelho parecia escorrendo e meu coração batia meio devagar. Era sobre amor e um bumbo. O ônibus demorava tanto pra subir a ladeira torta que eu começava a sentir calor no inverno. Era tão colorido. Tudo tão tão colorido! Todo mundo parecia tão feliz. Até eu, não fosse a tuberculose. É. O sangue sempre me deixou tonta. Sangue na garganta. Sangue no lenço. Sangue no véu. Sangue no ar. E é por causa do vento! Hoje tinha vento e uma fogueira boba na esquina quando cheguei e gosto de remédio na minha boca.
Escorrendo! Era isso!

Eu me escorri todinha no ralo.