A cidade é a grande casa. Nossa casa. De ninguém.
E a noite é o santuário do coração. Retorcida, escorrida, escarrada nas luzes que se apagam pra ela chegar.
Escondida, tão escura que até dói existir.
Gosto de quando a noite é azul e os prédios rasgam o céu com seu formato tão cheio, tão recortado.
A noite e seus vultos dormidos da madrugada que foi foi foi... e partiu.
A noite e seus filhos pulsantes que se esquivam como gatos espertos em suas curvas estreitas. E se embreagam no cheiro que vem dos bueiros. Do mijo e sangue e amores rasgados. Tão bonito e fétido. Aos loucos a procura de um útero quente e umido em forma de mulher (sem os dentes da frente): eis a noite.
Ruidoso e pesado o silêncio da noite na cidade...
Às minhas damas favoritas: a cidade e a noite e suas flores e fantasmas.
*texto de introdução para um trabalho de Linguagem Visual. Meu tema: A Cidade e a Noite.