quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Sobre o papai-noel aidético e sem barba do ônibus

Hoje eu senti vontade de vomitar um monte com aquelas luzinhas de natal já acesas e aquele cheiro forte de merda vindo do esgoto mal coberto e aquele balançar brusco e constante.
E toda aquela gente magra e doente subindo no ônibus. Tão melhores do que eu.
Aqui tão limpinha, tão ilesa. Tão virgem. Tão sentada.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Music is your special friend.

É bom poder descobrir exatamente qual música eu sou hoje!
E poder ficar ouvindo e ouvindo e engolindo e ouvindo ela.

"Hit me!"

Hoje parece que tem um nó no meu estômago!
Não sei se foi a cafeína, não sei se foi o David Lynch, não sei se foi toda a chuva que tomei no começo da tarde...
Mas o engraçado é que eu usava veludo azul!
Eu devia estar no auge dos meus quatro anos e ficava só esperando o dia feliz em que a mãe colocasse denovo o vestido de veludo azul em mim.
Veludo azul...
Hoje eu pintaria um quadro de uma pessoa sentada no meio de um banco grande no meio de uma praça grande - vazia - segurando um guarda-chuva quebrado e torto em uma das mãos e na outra segurando o cigarro secreto que ela fumava escondido. E ela ia parecer tão atormentada e dona de um segredo tão delicioso e tão desimportante pra todo o resto.
Mas ao invés do jeans preto eu ia colocar veludo azul nela.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Her light is the night

Pra cada lado do meu quintal que eu olho hoje parece um quadro que eu queria ter pintado. Têm as cores exatas que eu teria usado, sabe?
O nublado é tão tão claro, faz a gente ficar com os olhos semi-fechados...
Imaculado.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Sobre um prisma e a noite

O prisma parece um belo de um palhaço pendurado ali na minha janela quando é noite.
Fica ali, balançando de leve, como quem tem medo! Precisa tanto do dia pra funcionar, pobrezinho.
Eu queria tanto que não existe a hora em que a gente tem que fechar as janelas "pra não entrar mosquito". Eu sempre sempre resisti até que tudo fique um breu só e ou eu acendo a luz logo ou dou com o nariz na parede. Sempre, e que venham os mosquitos!
Por isso eu gosto do dia, que insiste em ser dia mesmo quando todo mundo já acendeu a luz feia. E por isso eu não gosto das pessoas, que correm pra acender a luz amarela mesmo quando ainda tem dia pra clarear. Dai fica aquela coisa: a cidade cheia dos pontinho amarelo de merda e por trás o céu ainda clarinho, mas quase-querendo-ficar-preto. Não combina! Não combina, os dois, assim, juntos. A luz amarela parece tão agridoce e me faz vomitar tudo tudo em tudo!
Ao menos tá fresco aqui agora.
Se é pra ser noite, que seja mesmo noite, escuro.
A noite vem e me abraça gelada
Filha de uma puta. Ou duas.
Me come
Sem açucar.
Quadrada e torta, tão bonita!
Enfia dois pedaços de algodão no meu nariz e vou caindo caindo caí.
Agora a chuva. E depois?

domingo, 19 de outubro de 2008

A volta

"Tá fazendo frio nesse lugar
onde eu já não caibo
onde eu já não caibo em mim."

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Eu amo os amigos que reuní sobre esta jangada fina.

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

O mundo parece vermelho

Folha queimada.
As estradas-pequenas tortas e cheias de vento e asfalto quente.
Eu posso ver a cidade morrendo sozinha lá em baixo e o cheiro de noite com whisky chegando.
E a rotina de plástico é doce e ácida e o ônibus começou a andar então eu páro.
As vezes parece que vem e dança em volta do meu pescoço me seduz, me sufoca, me ganha. Me ganha! Essa luz artificial tão feia tão amarela tão pobre me ganha! Parece um velho lar, conhecido. Gasto. O caminho já aberto entre o mato. Mato amarelo. Parece pobre e não tem janelas. Nem portas. Uma caixinha amarela tão familiar! Oh, deus, que vontade de deitar lá e sentir a testa quente e a perna grudando no chão e pingando pingando o suor pingando compondo uma canção.

Sobre o amor e um bumbo

O espelho parecia escorrendo e meu coração batia meio devagar. Era sobre amor e um bumbo. O ônibus demorava tanto pra subir a ladeira torta que eu começava a sentir calor no inverno. Era tão colorido. Tudo tão tão colorido! Todo mundo parecia tão feliz. Até eu, não fosse a tuberculose. É. O sangue sempre me deixou tonta. Sangue na garganta. Sangue no lenço. Sangue no véu. Sangue no ar. E é por causa do vento! Hoje tinha vento e uma fogueira boba na esquina quando cheguei e gosto de remédio na minha boca.
Escorrendo! Era isso!

Eu me escorri todinha no ralo.