terça-feira, 18 de novembro de 2008

Cospe-me

Eu corro corro e a parede vai correndo junto. Está sempre dois passos à minha frente, a filha de uma puta.
Talvez esta seja mesmo a lição da dinâmica: nunca conseguir encostar o limite. Mas, porra, eu quero encostar nos tijolinhos cor de laranja(podre)! Encostar não, arrebentar a parede e chegar do outro lado, assim - cuspida, sem precisar de convite mesmo. Nem recepção.
Igual nas grandes corridas dos desenhos animados já cheios de poeira: arrebentando a fita de marcação. F u r i o s a m e n t e. Igual à Vênus sem peles que rodopia rodopia até ficar tonta e cair e atravessar o chão e chegar, finalmente, na minha cama. Sangue. Tão nua. Quando se está sem peles, a gente consegue machucar com um sopro só, sabia?
E também, merda, quem precisa de uma lição de moral como desfeche de um filme?

Hoje meu café ficou choco - me vejo no espelho, do outro lado do copo. Só pouquinha coisa turva e borrada, mas talvez nem seja culpa do café.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Sobre canetas pesadas que não escrevem

Faz umas duas semanas que apareceu aqui em casa uma caneta que tem junto um medidor de temperatura e ela fica suspensa numa estrutura através de um imã. E ah, tem um relógio acoplado também.
Hoje eu precisei de uma caneta e ela estava mais perto.
Foi então que eu descobri que a única coisa que esta caneta não faz é: escrever!!!
É, a tinta fica falhando, terrível.

sábado, 8 de novembro de 2008

Vênus sem peles

Minha percepção de tempo parece...perturbada.
A folha balança devagar e o céu continua claro.
Será ainda o mesmo dia de tantos dias atrás?
Sinto que falta algo aqui hoje. E talvez seja eu mesma.
Sangue, amor. Sangue, meu amor. Meu. Sangue meu.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Ralo

Este é o lugar mais quente dessa cidade. Eu tenho certeza disso.
Quando eu chego aqui - exatamente aqui - no topo desta ladeira, vê? Então, quando eu chego aqui, eu começo a derreter e me desmantelo inteira.
Acho que é o centro da terra. Ou o final sem saída.

domingo, 2 de novembro de 2008

Refrão lento

Parecia que tinham colocado (ou eu tinha colocado?) cem roupas pesadas em mim - cem roupas do algodão mais grosso do mundo - e eu não consiga me mexer direito, nem respirar direito. Mesmo querendo me mexer tanto e respirar tanto.
E tudo parecia um pouco aguado e um pouco como uma aquarela que pegou chuva e depois caiu no chão e toda a tinta se misturou e se perdeu. Molhada.
Tá molhado e quente aqui, e bastante assombrado também. E é tão bom. Mas logo vem o mofo - eu sei, eu sei.
Parece que nunca vai parar de chover. E hoje eu desejo que nunca pare mesmo.